Socialização acadêmica e letramento acadêmico: pressupostos
da distinção e seu valor para a reflexão do professor acerca de sua intervenção
em cenários escolares diversos.
Luciene Simões (UFRGS)
Desde estudos considerados seminais no
campo da pesquisa etnográfica em torno dos letramentos (como o trabalho de
Street, 1984, e de Heath, 1983, ou mesmo o estudo pioneiro de Scribner e Cole, 1981),
tem-se desenvolvido um campo fértil de estudos de recorte antropológico acerca
da escrita. Nesse campo, estão em foco as práticas sociais a que se veem
associadas as interpretações dadas por membros de grupos sociais variados ao
objeto escrita. Ao mesmo tempo, passa-se a interpretar o letramento, ou mais
especificamente literacy, em inglês, não
somente do ponto de vista da construção cognitiva da alfabetização, mas também
das práticas discursivas de que participam não indivíduos, mas grupos sociais e
seus membros. Nesse sentido, o estudo do letramento não se confina a temas
ligados a cenários de aprendizagem, ou mesmo de aprendizagem escolar, mas diz
respeito a qualquer contexto social em que a escrita ganhe relevo como objeto
social interpretado, que toma lugar na construção do mundo social por grupos
diversos. Desse panorama, surge, na discussão acerca dos ditos letramentos
acadêmicos, uma distinção até certo ponto didática, mas, a meu ver, produtiva
entre socialização acadêmica e letramento acadêmico (LEA e STREET;
1998, 1999). Nesta fala, pretendo apresentar de modo breve os pressupostos da
distinção e discutir seu valor para a reflexão do professor acerca de sua
intervenção em cenários escolares diversos, chamando atenção para a importância
de aspectos ideológicos e interacionais quando se trata de planejamento escolar
e do estabelecimento de planos de estudos, uma vez que qualquer objeto de
ensino-aprendizagem, mesmo os gêneros do discurso, podem ser tomados tão
somente como objetos de análise e de trabalho metacognitivo, desconsiderando,
no trabalho conjunto realizado na escola, questões cruciais de acesso a
práticas discursivas indispensáveis para que os sujeitos se apropriem dos
códigos implicados nas práticas de leitura e de escrita.
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